DNA de cães pré-históricos revela a longa amizade com humanos

DNA de cães pré-históricos revela a longa amizade com humanos
DNA de cães pré-históricos revela a longa amizade com humanos (Foto: DRZ/Unsplash)

Por centenas de anos, houve uma maneira de estudar a pré-história humana: colocar um capacete, ir para um deserto na África ou no Oriente Médio, desenterrar alguns esqueletos e artefatos e fazer inferências com base em seus atributos físicos. Então, a genética moderna entrou em cena. Apenas estudando os genomas de humanos vivos, agora é possível fazer inferências sobre como nossos ancestrais povoaram o planeta.

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Em um estudo publicado na Science, um grupo de geneticistas, biólogos evolucionistas e arqueólogos faz uso de outra fonte de dados: o antigo DNA de cães. O estudo não apenas ajuda a descobrir a história evolutiva dos cães, mas também fornece algumas pistas tentadoras sobre a cultura humana pré-histórica, abrindo uma janela para a estreita relação milenar entre humanos e seus companheiros caninos.

“É outra camada para a compreensão da história humana”, diz Anders Bergström, pesquisador de pós-doutorado do Instituto Francis Crick e um dos principais autores do artigo. “Podemos descobrir processos históricos entre populações humanas que não são necessariamente visíveis no DNA humano.”

Os cães são objetos de pesquisa interessantes, tanto do ponto de vista biológico quanto antropológico. Cães domesticados, lobos e dingos pertencem à mesma espécie, embora os cães tenham divergido evolutivamente dos lobos entre 15.000 e 40.000 anos atrás. Desde essa divisão, as pessoas criaram cães em populações geneticamente distintas que chamamos de raças.

Ao comparar os genomas dos cães, podemos aprender sobre os processos feitos pelo homem que produziram essas populações e, ao estudar os genomas dos cães antigos, podemos trabalhar para entender como eram esses processos no passado.

A pesquisa de DNA antigo é sempre feito em grupo, e este artigo não é exceção: tem 56 autores. Algumas dessas pessoas são arqueólogos: em locais tão distantes quanto a Espanha e a Sibéria, eles desenterraram os ossos de 27 cães examinados neste estudo, que viveram entre 11.000 e 100 anos atrás.

Outros autores são os cientistas que trabalharam com esses espécimes antigos para extrair e sequenciar seu material genético. E ainda outros, como Bergström, analisaram os dados em busca de evidências das relações evolutivas entre esses 27 cães, cães modernos e lobos.

Usando uma técnica que compara os genomas inteiros de diferentes espécimes entre si para determinar quais pares de animais estão mais ou menos relacionados, a equipe foi capaz de determinar, por exemplo, que os antigos cães do Leste Asiático são, surpreendentemente, mais parentes dos antigos cães europeus do que dos antigos cães do Oriente Médio.

Ao construir essa árvore genealógica, Bergström e seus colegas descobriram algo surpreendente: 11.000 anos atrás, antes que muitos grupos humanos adotassem a agricultura, as populações de cães domesticados já haviam formado pelo menos cinco grupos geneticamente distintos. “No final da Era do Gelo, antes que qualquer outro animal fosse domesticado, os cães já haviam se ramificado em linhagens separadas e se espalhado pelo mundo”, diz Bergström. “Muitas dessas linhagens ainda estão representadas hoje, nos cães de hoje.”

Em outras palavras, raças como os Huskies siberianos e os Pastores alemães descendem de populações de cães que estavam completamente separadas por volta do ano 9.000 aC, se não antes. “Podemos olhar para os cães em um parque e ver o resultado desse processo que começou antes de qualquer ser humano começar a cultivar ou antes de qualquer outro animal ser domesticado”, conclui Bergström.

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